A última parte dessa pequena entrevista trata da importância do Projeto das Gramáticas Pedagógicas para a própria comunidade e para o ensino e conservação das línguas minoritárias brasileiras.
Como esse
projeto pode contribuir para o ensino e a manutenção de línguas indígenas?
O benefício direto do
projeto é o de criar um material de descrição das línguas acessível aos
professores e alunos indígenas. Porém, o projeto não se limita a produzir as
gramáticas pedagógicas. No seu segundo ano estão previstas oficinas nas aldeias
para facilitar a inserção da gramática no cotidiano das aulas de língua. Essas
oficinas estão servindo como curtos programas de educação continuada, onde os
professores aprendem a produzir planos de aula incluindo unidades da gramática,
preparando também outras atividades que trabalhem as habilidades de expressão
oral e escrita dos seus alunos. Além disso, alguns projetos estão incluindo
discussões específicas sobre a elaboração de programas de língua. Por exemplo,
nas oficinas wapichana os linguistas junto com os professores começaram a
delinear esboços de programas de língua do sexto ao nono ano do ensino
fundamental que incluam a gramática pedagógica junto com outros materiais de leitura
e produção textual. Essa pode ser uma contribuição bastante significativa do
projeto, uma vez que o levantamento sócio-linguístico-educacional feito por
pesquisadores do ProDoclin mostrou que das escolas das cinco etnias que
participam do projeto, em nenhuma delas existe um programa de ensino de língua
materna no qual se especifique o que um aluno deve aprender durante os seus
anos de estudo. Os currículos de língua indígena ou são completamente
idiossincráticos, variando muitas vezes para cada professor, ou são simplesmente
inexistentes.
Um outro possível futuro
desdobramento da elaboração dessas gramáticas é o da melhoria na formação dos
professores. Atualmente, os programas de formação de professores indígenas não
incluem aulas específicas sobre as estruturas das línguas a serem ensinadas. Em
suas grades curriculares existem no máximo cursos com algumas noções de
linguística geral. Diferentemente dos professores de língua portuguesa ou
estrangeira que estudam as gramáticas das línguas que irão ensinar durante
quatro anos nos cursos de letras, um professor de língua indígena normalmente
nunca faz um só curso sobre as estruturas fonológicas e morfossintáticas
existentes na sua língua. Uma das razões para a falta de cursos de língua
indígena adequados nos programas de formação é a falta de descrições
linguísticas acessíveis aos professores. Por tanto, espera-se assim que as Gramáticas Pedagógicas do ProDoclin possam
ter um impacto positivo também na preparação do corpo docente das escolas
indígenas.
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