segunda-feira, 21 de setembro de 2015

1ª OFICINA DA GRAMÁTICA PEDAGÓGICA DAS LÍNGUAS KUIKURO, MATIPU, KALAPALO E NAHUKWA

Entre os dias 23 a 27 de agosto de 2015, foi realizada a 1ª Oficina para a elaboração da Gramática Pedagógica de Kuikuro, Matipu, Kalapalo e Nahukwa, línguas/variedades pertencentes à família linguística Karib e faladas pelos povos do mesmo nome que habitam a porção sudeste do Alto Xingu, Terra Indígena do Xingu (estado de Mato Grosso). São cerca de mil pessoas distribuídas em seis aldeias principais e dez aldeias menores. Todos são falantes de suas línguas maternas. As aldeias têm escolas, todas funcionando em condições extremamente precárias e carentes de materiais didáticos adequados, sobretudo em língua indígena. Cada escola tem seus professores, todos indígenas.

O apoio da administração regional da FUNAI, através de seu responsável, Kumare Txikão, e do Museu do Índio (FUNAI-RJ) foi fundamental para que a Oficina se tornasse realidade. A Dra Bruna Franchetto (docente dos Programas de Pós-Graduação em Antropologia Social e em Linguística da UFRJ e coordenadora do Programa de Documentação de Línguas Indígenas do Museu do Índio, ProDoclin) e a Dra Mara Santos (docente do curso de Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade Federal do Amapá, campus de Oiapoque) foram as coordenadoras da Oficina. Uma parte dos recursos necessários para o evento vieram do CNPq, através da Bolsa de Produtividade em Pesquisa da Dra Franchetto. A metodologia aplicada na produção da GP é comum a todas as GPs elaboradas no âmbito do Projeto de Gramáticas Pedagógicas do ProDoclin, coordenado pelo Dr Luiz Amaral (Universidade de Massachussets, Amherst).

Agradecemos Yanama Kuikuro, diretor da escola de Ipatse, e Magika Kuikuro, que documentou em vídeo a Oficina. Camilo Kuikuro e Mayagu Matipu foram responsáveis pela documentação fotográfica.





A 1ª Oficina da GP dos povos karib do Alto Xingu aconteceu na aldeia Ipatse, principal aldeia kuikuro, com 28 participantes, na grande maioria professores das quatro etnias.

O primeiro dia foi dedicado à organização e preparação da Oficina, que teve o apoio de todas as lideranças e comunidades, com refeições fornecidas por beijuzeiras e pescadores e preparadas na cozinha da escola.



Trabalhamos intensamente todos os dias, de 8 às 12 hs e das 14 às 17 hs. As condições da Escola Central Karib são péssimas, já que até hoje não foi construída uma nova escola pela SEDUC-MT; a própria comunidade ergueu um barracão onde é praticamente impossível realizar qualquer atividade, sobretudo na época da seca, muito quente e quando a poeira cobre tudo.





Realizamos nossas atividades em um recinto improvisado debaixo de mangueiras.



Na manhã do primeiro dia da Oficina foram apresentados, discutidos e solucionados alguns problemas da ortografia das línguas indígenas envolvidas, com base na análise fonológica.



Em seguida Bruna mostrou a todos a segunda edição do livro bilíngue IKU ÜGÜHÜTÜ, Arte Gráfica dos Povos Karib do Alto Xingu (publicado pelo Museu do Índio, 2015).



Bruna apresentou também os dossiês produzidos para a certificação das línguas Kuikuro, Matipu, Kalapalo e Nahukwa como Referências Culturais Brasileiras, junto ao INDL (Inventário Nacional da Diversidade Linguística), programa governamental interministerial gerido pelo IPHAN, Ministério da Cultura.



Na parte da tarde e nos dias seguintes, conseguimos produzir as duas primeiras unidades da GP. Foram formados dois grupos que trabalharam em paralelo sobre dois temas escolhidos consensualmente: KIHATOHO (‘feito para indicar/mostrar gente’, que trata da expressão da pessoa ou pronomes pessoais) e INKO ÜGÜHÜTU IHATOHO (‘feito para indicar/mostrar o jeito ou modo ser das coisas’, que trata da expressão de propriedades predicadas de substantivos, ou adjetivos).





Foram elaborados: definições, exemplos, pequenos textos, diálogos – todos exclusivamente em língua indígena – e desenhos. As unidades foram apresentadas e discutidas coletivamente no último dia, contando com a participação de falantes mais idosos considerados ‘mestres da língua’.



Podemos dizer que a Oficina alcançou resultados que foram além de nossas expectativas. Deixamos os professores entusiasmados e dispostos a continuar o trabalho até termos as GPs concluídas num futuro não longínquo. A experiência mostrou que a produção de GPs metodologicamente e teoricamente fundamentadas é essencial para o ensino da língua indígena na escola, o que repercute no fortalecimento de seu uso e das atitudes positivas com relação a ela.