1ª OFICINA DA GRAMÁTICA PEDAGÓGICA
DAS LÍNGUAS KUIKURO, MATIPU, KALAPALO E NAHUKWA
Entre
os dias 23 a 27 de agosto de 2015, foi realizada a 1ª Oficina para a elaboração
da Gramática Pedagógica de Kuikuro, Matipu, Kalapalo e Nahukwa, línguas/variedades
pertencentes à família linguística Karib e faladas pelos povos do mesmo nome
que habitam a porção sudeste do Alto Xingu, Terra Indígena do Xingu (estado de
Mato Grosso). São cerca de mil pessoas distribuídas em seis aldeias principais
e dez aldeias menores. Todos são falantes de suas línguas maternas. As aldeias
têm escolas, todas funcionando em condições extremamente precárias e carentes
de materiais didáticos adequados, sobretudo em língua indígena. Cada escola tem
seus professores, todos indígenas.
O
apoio da administração regional da FUNAI, através de seu responsável, Kumare
Txikão, e do Museu do Índio (FUNAI-RJ) foi fundamental para que a Oficina se
tornasse realidade. A Dra Bruna Franchetto (docente dos Programas de
Pós-Graduação em Antropologia Social e em Linguística da UFRJ e coordenadora do
Programa de Documentação de Línguas Indígenas do Museu do Índio, ProDoclin) e a
Dra Mara Santos (docente do curso de Licenciatura Intercultural Indígena da
Universidade Federal do Amapá, campus de Oiapoque) foram as coordenadoras da
Oficina. Uma parte dos recursos necessários para o evento vieram do CNPq,
através da Bolsa de Produtividade em Pesquisa da Dra Franchetto. A metodologia
aplicada na produção da GP é comum a todas as GPs elaboradas no âmbito do
Projeto de Gramáticas Pedagógicas do ProDoclin, coordenado pelo Dr Luiz Amaral
(Universidade de Massachussets, Amherst).
Agradecemos
Yanama Kuikuro, diretor da escola de Ipatse, e Magika Kuikuro, que documentou
em vídeo a Oficina. Camilo Kuikuro e Mayagu Matipu foram responsáveis pela
documentação fotográfica.
A
1ª Oficina da GP dos povos karib do Alto Xingu aconteceu na aldeia Ipatse,
principal aldeia kuikuro, com 28 participantes, na grande maioria professores
das quatro etnias.
O
primeiro dia foi dedicado à organização e preparação da Oficina, que teve o
apoio de todas as lideranças e comunidades, com refeições fornecidas por
beijuzeiras e pescadores e preparadas na cozinha da escola.
Trabalhamos
intensamente todos os dias, de 8 às 12 hs e das 14 às 17 hs. As condições da
Escola Central Karib são péssimas, já que até hoje não foi construída uma nova
escola pela SEDUC-MT; a própria comunidade ergueu um barracão onde é
praticamente impossível realizar qualquer atividade, sobretudo na época da
seca, muito quente e quando a poeira cobre tudo.
Realizamos
nossas atividades em um recinto improvisado debaixo de mangueiras.
Na
manhã do primeiro dia da Oficina foram apresentados, discutidos e solucionados
alguns problemas da ortografia das línguas indígenas envolvidas, com base na
análise fonológica.
Em
seguida Bruna mostrou a todos a segunda edição do livro bilíngue IKU ÜGÜHÜTÜ, Arte Gráfica dos Povos Karib do Alto Xingu (publicado pelo Museu do Índio, 2015).
Bruna
apresentou também os dossiês produzidos para a certificação das línguas Kuikuro,
Matipu, Kalapalo e Nahukwa como Referências Culturais Brasileiras, junto ao
INDL (Inventário Nacional da Diversidade Linguística), programa governamental
interministerial gerido pelo IPHAN, Ministério da Cultura.
Na
parte da tarde e nos dias seguintes, conseguimos produzir as duas primeiras
unidades da GP. Foram formados dois grupos que trabalharam em paralelo sobre
dois temas escolhidos consensualmente: KIHATOHO
(‘feito para indicar/mostrar gente’, que trata da expressão da pessoa ou
pronomes pessoais) e INKO ÜGÜHÜTU IHATOHO
(‘feito para indicar/mostrar o jeito ou modo ser das coisas’, que trata da
expressão de propriedades predicadas de substantivos, ou adjetivos).
Foram
elaborados: definições, exemplos, pequenos textos, diálogos – todos exclusivamente
em língua indígena – e desenhos. As unidades foram apresentadas e discutidas
coletivamente no último dia, contando com a participação de falantes mais
idosos considerados ‘mestres da língua’.
Podemos
dizer que a Oficina alcançou resultados que foram além de nossas expectativas.
Deixamos os professores entusiasmados e dispostos a continuar o trabalho até
termos as GPs concluídas num futuro não longínquo. A experiência mostrou que a
produção de GPs metodologicamente e teoricamente fundamentadas é essencial para
o ensino da língua indígena na escola, o que repercute no fortalecimento de seu
uso e das atitudes positivas com relação a ela.
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